PM aposentado 'Padrinho' teve R$ 90 mil apreendidos em casa e vazou operação para TH Joias, diz PF: 'Amanhã 5h, mané'
05/09/2025
(Foto: Reprodução) PF encontra R$ 90 mil em dinheiro na casa de responsável pela segurança de TH Joias
A quadrilha comandada pelo ex-deputado Thiego Raimundo dos Santos Silva, o TH Joias, contava com uma rede seguranças e informantes, de acordo com a Polícia Federal. Entre eles, o subtenente aposentado Kleber Ferreira da Silva. O ex-policial é chamado de "Padrinho" pelo grupo.
Os policiais federais encontraram R$ 90 mil em dinheiro em sua casa, em um condomínio de luxo. Kleber é suspeito de jogar um dos três celulares apreendidos em sua casa no vaso sanitário. Os outros dois aparelhos encontrados tiveram a senha fornecida pelo policial aposentado à PF.
Segundo investigações da Polícia Federal, Kleber Ferreira era responsável por arregimentar policiais para o grupo.
Kleber Ferreira da Silva, PM aposentado e apontado pela PF como responsável pela segurança de TH Joias
Reprodução
Além de Kleber, outros policiais integravam o núcleo operacional do grupo:
Wallace Menezes Varges de Andrade Tobias - policial do Batalhão de Operações Especiais (Bope);
Alexandre Marques dos Santos Souza, cabo do 4º BPM (São Cristóvão);
Wesley Ferreira da Silva, cabo do 31º BPM (Barra da Tijuca);
Rodrigo Costa Oliveira, cabo lotado na Subsecretaria de Gestão de Pessoas
Outros cinco policiais são investigados pela PF, mas não foram identificados até o momento. Também policial, o delegado federal Gustavo Stteel não integraria o núcleo operacional, mas um núcleo logístico que intermediaria o contato entre a quadrilha e autoridades públicas.
TH e os policiais foram presos na quarta-feira (3) em operação da Delegacia de Repressão à Entorpecentes (DRE) e do Ministério Público Federal. Foram cumpridos 15 mandados de prisão expedidos pelo Tribunal Regional Federal (TRF), da 2ª Região (Rio e Espírito Santo). Em operação convergente, que também tinha TH Joias como alvo, cumpriu 4 mandados de prisão, numa ação integrada entre a PF, o MPF, a Polícia Civil do Rio de Janeiro e o Ministério Público estadual (MP-RJ).
Para a PF e procuradores do Ministério Público Federal (MPF), esse núcleo operacional atuaria na escolta de TH, de Luiz Eduardo Cunha Gonçalves, o Dudu e do traficante Gabriel Dias de Oliveira, o Índio.
"A cooptação de agentes públicos pela facção criminosa é uma estratégia recorrente, tem por natural objetivo preservar o grupo das ações do Estado contra o crime organizado, além de viabilizar a própria operacionalidade do esquema, por meio, por exemplo, do transporte das cargas ilícitas de drogas, armas e dinheiro", escreveu o MPF.
O grupo também, segundo as investigações, vazava informações de operações policias para traficantes ligados a TH Joias.
Uma delas ocorreu em 26 de abril de 2024. Na ocasião, 350 policiais militares e civis fizeram uma grande operação conjunta no Complexo do Alemão, na Zona Norte do Rio de Janeiro. A força-tarefa saiu para prender criminosos de outros estados que buscaram abrigo no conjunto de favelas, dominado pelo Comando Vermelho, a maior facção do tráfico do RJ.
Tiros são ouvidos enquanto carro em chamas serve como barricada no Alemão
Mas os bandidos que eles procuravam tinham sido avisados por TH Joias, segundo a PF. Na ocasião, o policial aposentado Kleber avisa a TH:
KLEBER: “Operação amanhã 5h, mané.”
TH: “Não entendi, não entendi. Repete aí, por favor. Picotou.”
KLEBER: “Então, saí... Eu estava hoje. Tá ouvindo? Eu ia sair 7 h, desenrolei pra sair 6h pra vir pra cá, certo? Até aí tranquilo. Aí agora o comandante jogou no grupo que vai ter operação amanhã 5h pronto.”
TH: “Acho que é pra lá, pro amigo lá.”
KLEBER: “Eu não sei o que que o senhor vai fazer aí e tal, o horário.”
TH: “Eu acho que é lá pro amigo lá. Lá pro amigo.”
KLEBER: “É pra lá? Eu to aqui no portão, você tá onde, tá aí em cima?”
TH: “Vou descer, vou descer, to aqui no quarto. Vou descer. Procura saber aí, procura saber aí.”
KLEBER: “Tá, valeu, demorou. Já é.”
O "amigo" citado acima é, de acordo com a investigação, Luciano Martiniano da Silva, Pezão, traficante que comanda o tráfico no Complexo do Alemão, onde ocorreu a operação.
Em 25 de abril, um dia antes da operação, quando já vazava dados para o grupo, TH Joias fala ao traficante Índio que ele deveria fazer um pagamento a Kleber.
O que dizem os citados
A defesa de TH Joias divulgou uma nota:
"A defesa do deputado estadual Thiego Raimundo dos Santos Silva considera absurdas as acusações que vêm sendo reiteradas contra ele. Trata-se de uma repetição de fatos já explorados anteriormente, em claro movimento de perseguição política a um representante legítimo do povo do Rio de Janeiro.
Até o presente momento, a defesa não teve acesso integral aos autos, o que evidencia a violação do direito constitucional ao contraditório e à ampla defesa. Reafirmamos nosso compromisso em esclarecer todos os pontos e demonstrar a total inocência do deputado".
Nota de Kléber Ferreira da Silva, assinada pelos advogados Norley Thomaz Lauand e Charles Santolia da Silva Costa: "A defesa de Kleber Ferreira da Silva declara que a prisão em relação seu cliente é desnecessária e desproporcional, em vista que não foi alvo da investigação policial tendo sua aparição em um único momento, supostamente, respondendo à indagação de uma pessoa até então de idoneidade ilibada sobre uma possível operação policial, o que é perfeitamente aceitável, por acreditar estar preservando a vida do parlamentar e seus eleitores se por acaso tivesse lá na comunidade realizando trabalho social, frisa-se, que tão somente há essa única troca de mensagem, não tendo qualquer relação com os demais investigados, tampouco os conhece. Já fora formulado pedido de revogação de prisão e alternativamente, conversão da prisão preventiva em prisão domiciliar ante seu estado de saúde e idade avançada, entendendo que os motivos ensejadores dessa medida extrema não permanecem hígidos, bem como no momento oportuno provará sua inocência, sobretudo por não oferecer qualquer risco a instrução criminal pois trata-se de policial da reserva desde 2013".
A defesa do PM Wallace Tobias disse que não vai se pronunciar porque não teve acesso à íntegra do processo.
O g1 procura pelas defesas de Alexandre Marques dos Santos Souza, Wesley Ferreira da Silva e Rodrigo Costa Oliveira.
Nota do Governo do RJ: "O Governo do Estado do Rio não compactua com nenhuma ação criminosa que tenha envolvimento de seus servidores e destaca que a operação que culminou com as prisões dos citados, além de um delegado da Polícia Federal, teve participação da Polícia Civil, por meio da Força Integrada de Combate ao Crime Organizado (FICCO-RJ). O governador Cláudio Castro também ressalta seu compromisso de continuar a combater as estruturas do crime organizado, independentemente de onde estejam instaladas."
O deputado estadual Thiego Raimundo dos Santos Silva, o TH Joias, do MDB
Divulgação/Alerj